NIETZSCHE nos mostra em Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, entre outras coisas, o pressuposto problemático presente na noção que se tem de verdade: o de que o lastro das palavras seriam as próprias coisas. Verdadeiro, para a tradição, seria portanto o enunciado condizente com um mundo extra-discursivo, mundo cuja realidade é idêntica a si mesma, una e eterna. O resultado mais imediato disso (e seu sintoma) são as designações arbitrárias. Mas os enganos se sobredeterminam. Se pensarmos na linguagem e na sua função para o conhecimento, à luz do que nos diz o texto, a dimensão da “coisa em si” na verdade é indiferente ao designador, uma vez que o verdadeiro objetivo da criação de uma linguagem “verdadeira” é a padronização das referências. O intuito de tal gesto não seria outro que o de vincular entre si aqueles que se submetem às regras da moral visando à conservação da vida. Estas regras são tanto confundidas com as leis da natureza quanto tomam de empréstimo o seu semblante de objetividade. E é deste gesto que o social nasce, pois o que se designa antes de qualquer coisa são as relações entre esses indivíduos. O social parece ser o meio mais eficaz de se firmar num mundo que é puro devir. É sobre essa moral que se apóia a civilização. Esse seria o interesse último na idéia de que a verdade é adequação do intelecto com a realidade. A conclusão a que se chega é que a realidade é instaurada antes que designada pela linguagem. Em razão dessa separação absoluta entre estes domínios Nietzsche no mesmo texto afirma só haver metáforas, embora o homem que as utiliza não tenha consciência disso. Mas o conceito, instrumento criado pela filosofia, é de tipo diferente, pois ele é esquecido de si, de sua origem metafórica. Conceito é portanto o termo que não comunica nenhuma experiência, ele tem antes a pretensão de se referir a um universal que, enquanto tal, iguala o que é singular numa mesma idéia através do processo de desconsideração das diferenças.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Assinar:
Postagens (Atom)