A narrativa feita pela tradição sacerdotal acerca da origem é uma narrativa cosmogônica. A criação do mundo e de todas as coisas ocorre em seis dias. A criação do mundo, é importante ressaltar, não foi uma criação ex nihilo, o que quer dizer que o mundo não foi criado a partir do nada. Tal interpretação só é possível, obviamente, se o primeiro versículo ("No princípio Deus criou o céu e a terra.") for considerado mais propriamente um título do que de fato o início da narrativa da criação. Se o mundo não foi uma criação ex nihilo, o que é que havia antes da criação? Ora, havia a terra, as águas, o abismo, as trevas, o vento (o sopro de Deus). Podemos, então, interpretar o primeiro dia da criação como o início do estabelecimento do cosmos, outro termo para ordem. A ordem (cosmos) se opõe ao caos primordial descrito em gênesis 1:2. Neste primeiro dia, Deus diz: "Haja luz". No segundo Deus cria o firmamento, separando as águas de cima das águas de baixo. No terceiro, criação dos continentes ao separar as terras secas e criação das ervas e das plantas. (Se Deus não diz às plantas "crescei e multiplicai-vos", e no entanto elas crescem e se multiplicam é porque a relação de causalidade foi estabelecida nesse terceiro dia.) Quarto dia, cria Deus os luzeiros como sinais do dia e da noite (o sol como sinal do dia; a lua como sinal da noite). Em relação a outros povos antigos é excepcional o fato de o sol e a lua, os astros mais visíveis, não serem considerados divindades por parte dos hebreus, mas sim objetos criados por Deus. Outro fato curioso é que a luz que ilumina todas as coisas não provém do sol, já que sua existência é anterior à existência do astro a quem lhe atribuem se fonte. Quinto dia, criação dos peixes, das aves e dos animais que rastejam. No sexto, Deus cria os outros animais, as feras, os animais domésticos e o próprio homem.
A outra narrativa da criação, narrativa feita pela tradição iavista, é antropogônica, isto é, não é exatamente a criação do cosmos que é narrada, como o faz a narrativa anterior, mas a criação do homem. E tudo que existe além do homem foi criado única e exclusivamente para o seu auxílio. Nesta segunda narrativa, o homem é feito de argila e colocado num jardim situado num lugar chamado Éden. Antes do homem não havia plantas, porque não havia quem as cuidasse, nem chuva para irrigá-las. Não havia também os animais. Estes últimos após serem criados para que auxiliassem o homem revelaram-se inadequados para tal propósito. Por enquanto, o termo "homem" se refere ao homem em geral, o ser humano independente do sexo. É com a criação da mulher a partir da costela do homem que esse homem agora parece ser mais propriamente um indivíduo. E o propósito de Deus quando fez a mulher foi o de que esta servisse de auxiliadora do homem de cuja costela fora criada.
Em seguida, o que se lê é a queda do homem. No centro do jardim havia duas árvores: uma da vida e outra do conhecimento do bem e do mal. De todas as árvores Deus permitira que o homem comesse do fruto, com exceção dessas duas localizadas no centro. Seduzida pela serpente, Eva come do fruto da árvore que Deus ordenara que não comesse. Em seguida, ela oferece a Adão o fruto e ele o come. A consequência foi que "os seus olhos se abriram" e passaram perceber que estavam nus. Deus que caminhava (imagem antropomórfica de Deus própria da tradição iavista) no jardim pergunta a Adão "onde estás?". Adão, por causa da vergonha de sua nudez se encontrava escondido. Deus pergunta como sabia ele que estava nu e se havia comido do fruto proibido, ao que responde Adão que fora Eva quem o seduzira a comê-lo. Deus pergunta a Eva por que fizera ela aquilo. Eva, por sua vez, como fizera Adão, transfere a sua culpa à serpente. Deus então castiga cada um de determinado modo: o homem retirará o seu sustento com o suor de seu rosto; a mulher parirá com dor; a serpente comerá pó porque doravante rastejará. Mas de todos os castigos, terá sido o da morte aquele que mais afetou o homem expulso do paraíso e posto numa terra árida de cujo cultivo dependerá o seu sustento? Há uma nota de rodapé na Bíblia de Jerusalém que diz que a árvore do conhecimento do bem e do mal não é simplesmente o símbolo de uma tomada de consciência do que seria o Bem e o Mal, mas que comer de seu fruto, precisamente porque contraria à ordem divina, é um crime à soberania de Deus, o primeiro passo rumo a uma autonomia moral de decisão acerca do que é o bem e o que é o mal, algo que, para a mente divina, só poderia caber a Ele, Deus.