Por enquanto não há como determinar o sentido destas manifestações. Uma coisa só é certa: o traço das diversas posições de todos diretamente envolvidos ou não está sendo delineado com certa nitidez. Isso nos permite ver com uma clareza privilegiada que a ideia de "povo" é uma abstração. Não existe algo como "o povo". Todos quererem saúde, educação, fim da corrupção, segurança, transporte de qualidade, etc. não basta para unir as pessoas num movimento único. O que se via nas ruas eram pedidos de diminuição do estado e mais liberdade ao lado de bandeiras coloridas do movimento gay com siglas de partidos de esquerda; havia ainda aqueles que gritavam contra a própria ideia de partido, pois para eles todo partido – por ser essencialmente desonesto – é desejoso de roubar para si as vantagens e os méritos de uma grande mobilização. A tensão maior portanto era menos a que existe entre os manifestantes e a polícia, 'o povo' e o estado, os homens e as estruturas do poder do que entre os próprios participantes na passeata. Então, o ponto é: o que determina essas tomadas de posição, ou melhor, o que abre o campo dos posicionamentos possíveis? Diria que o que caracteriza as posições dentro do quadro é a consideração do que personifica o MAL causa da impossibilidade do Brasil.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
terça-feira, 18 de junho de 2013
Protesto do dia 17 de junho de 2013
O que na verdade querem aqueles que são a favor do protesto mas contra seus excessos, por exemplo o quebra-quebra de ontem no centro do Rio de Janeiro? Querem um protesto light? Protesto light não existe e se existe não é bem um protesto mas alguma outra coisa que não repercute em absolutamente nada. Será por que o vandalismo soa caótico para eles? Saibam que tais atos "vândalos" possuíam alvos bem específicos e por esta razão não eram um mero caos. A verdadeira demanda do povo, portanto, não deve ser lida na maioria dos cartazes que desfilavam ontem pela avenida ou nas falas e nos cantos entoados, mas exatamente nos próprios excessos. O que destruíram ou o que quiseram destruir é onde se encontra a verdadeira mensagem. Por isso, por trás da aparente falta de unidade das mais diversas insatisfações, diversidade que inclusive impossibilitava com que cada um soubesse afinal o porquê de estar ali, havia uma insatisfação objetiva que teve efeitos objetivos. Quem se envolveu naquele protesto objetivo pagou o preço do risco (de ser preso, de levar tiro de bala de borracha, de morrer). E qual poderia ser outra insatisfação senão com o próprio sistema injusto que funciona por meio da exclusão? Então não é nem Cabral, Dilma, Paes, tampouco os 20 centavos ou o transporte público. Os prédios ontem depredados eram aquilo que personificava esse sistema, a Alerj e os bancos. Os protestantes radicais foram ali um dos poucos que sabiam o que faziam. Os da linha light se mostraram preocupados com os prédios históricos. Mas o que é um prédio que aponta para o passado comparado a um acontecimento que abre espaço para uma nova ordem? As invasões de ontem eram dessa natureza, daí o otimismo próprio do novo frescor de uma outra realidade possível. Hoje, o dia seguinte, à luz do que ocorreu ontem, paira no ar uma certa compreensão do quão performático e artificial é o cotidiano. Finge-se que nada aconteceu para que o ocorrido de ontem perca o peso de um acontecimento. Não duvido que a grande maioria que assistia a tudo pela tv não pensava em seu íntimo que a coisa talvez tenha ido longe demais. É nessas horas que se percebe até que ponto querem que as coisas de fato mudem. A oportunidade está aí. Agora... estamos à altura dela?
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