sábado, 8 de agosto de 2009

O lamento das coisas

Em O Lamento das Coisas, de Augusto dos Anjos, o poeta se coloca à escuta de tudo o que não é aproveitado, de tudo o que se perde. E dessa “energia” desperdiçada ouve-se um choro. Vidas que se perdem pelo fato mesmo de nascerem, riquezas que somem na promiscuidade esplêndida das moléculas: bem ou mal aproveitados os talentos, a natureza é indiferente a qualquer um deles. Em outro lugar, refere-se à natureza como “Semeadora de defuntos”. Não seriam os seus versos o "lamento" de quem ou do que irá se perder para nunca mais? De um ateísmo mórbido, são com os sagrados termos das ciências que os Anjos de Augusto fazem as suas preces. A religião profana que congrega tem em seu livro santo o Apocalipse no lugar do livro de Gênesis.


O lamento das coisas

Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos,
O choro da Energia abandonada!

É a dor da Força desaproveitada
— O cantochão dos dínamos profundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
jazem ainda na estática do Nada!

É o soluço da forma ainda imprecisa...
Da transcendência que se não realiza...
Da luz que não chegou a ser lampejo...

E é em suma, o subconsciente ai formidando
Da Natureza que parou, chorando,
No rudimentarismo do Desejo!

2 comentários:

  1. Há quanto tempo estou devendo um comentário aqui? há um bom tempo risos. Finalmente eu vim (festa)enfim ao meu comentário certo? Poema interessante.. falando sobre tudo aquilo que todos os poetas sempre falam mas de uma maneira muito peculiar... de uma maneira meio científica. Ele fala da natureza e das suas ações através da física. Será que eu entendi o espírito, ou viajei muito na maionese? risos. Beijo Bruno!

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  2. Já ouvir dizer que se trata de uma crônica sobre a natureza perdulária de uma masturbação.

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