Diferentemente de quem se fecha sobre si, o escritor é aquele que se “confunde” com aquilo sobre o que escreve para colher o que se lhe oferece. Se escreve sobre uma vivência, não o faz para recuperá-la porque fora deixada para trás e se perdera no tempo, mas porque, pela sua condição mesma de artista que jamais fala de si, ele é o locus de uma experiência maior, histórica, não individual. Enquanto sede de acontecimentos que o ultrapassam, é através dele que uma cidade e uma época se dizem. “Perder-se requer instrução”, escreveu Walter Benjamin. Como ainda ter a expectativa de que uma pessoa possa ter plena posse do que se passou (e se passa) consigo própria? Antes, é ela que pertence àquilo sobre o que escreve. Se fala acerca de um lugar ou de um tempo é porque, como uma espécie de prisioneiro, é o lugar e o tempo que a têm. As fronteiras da dimensão escritor escapam aos limites do eu. E se as impressões que tem podem ser vertidas em texto é porque há nele, escritor, certa atenção à abertura que nega o eu identificado com o si mesmo. Em suas narrativas, na linguagem utilizada, nota-se todo o esforço para que melhor se manifeste o que quer que se narre. Que aquele que testemunha e registra “apareça” o mínimo possível, como que para para não “atrapalhar” o que através dele, poeta, quer se dizer. Impossível posição esta do escritor! Como estar presente e ausente ao mesmo tempo? Uma "presença afastada", cuidadosamente planejada, ou, o que daria no mesmo, uma aproximação absoluta até se "perder" naquilo de que escreve para da melhor forma fazer o que lhe cabe, que é tão somente o testemunho silencioso que viabilize as coisas falarem em lugar dele falar. O escritor faz "autor" e "paisagem", "expressão" e "cena" se tornarem uma só coisa, faz sumir o que separa "sujeito", "objeto" e "linguagem".
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Perfeito!
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