domingo, 25 de maio de 2025

Fim do Mundo

As formas de considerar a realidade podem ser exploradas através de obras que tratam do tema de seu fim, da iminência de sua mais radical e absoluta dissolução. Há livros e filmes nos quais somente as catástrofes, com poder de destruição de cidades, ou mesmo do planeta inteiro, constituiriam acontecimentos que efetivamente poriam termo à realidade. Tais formas identificam a realidade com o “mundo material”. Filmes hollywoodianos de “fim de mundo” parecem corroborar isto. Cometas que rumam na direção da Terra, terremotos, mudanças climáticas, etc., encarnam esse elemento externo que “de fora” ameaça a integridade do “mundo”. Mas o sentido de “realidade” não se esgota no pressuposto que a identifica a “mundo material”. Ora, outra sorte de eventos que expõem a fragilidade do “mundo” constitui uma interessante maneira de investigação da realidade em sentido mais amplo. É possível compreendê-la através da consideração do que a põe em xeque a partir dela mesma. Exemplo disso: um objeto corriqueiro é deslocado, um gesto comum é realizado sem propósito, uma situação trivial mas fora de contexto ou repetida à exaustão. O conto A gargalhada, de Orígenes Lessa, por exemplo nos apresenta a relação entre o trivial e a sustentação da realidade, que se revela frágil: algo banal como uma gargalhada, quando deslocado de seu contexto ou desvirtuado de seus fins esperados, pode destituir a realidade de sua substância expondo a sua inconsistência. Assim, a realidade, que se apresentava firme e sólida, existente em si e por si mesma, revela-se como resultado de uma configuração psíquica específica.

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