segunda-feira, 9 de julho de 2018

A linguagem, a verdade, a consciência e o medo

É suposto que a linguagem seja o meio de conhecimento do que se considera poder conhecer. Para isso, ao tornar-se conceito teve a linguagem que se esquecer de sua origem metafórica. Conhecer é um processo, como disse Nietzsche, de “igualação do não igual”, de redução do múltiplo, de abandono e desconsideração das diferenças que fazem do que é individual o indivíduo que se é. E qual é o custo disto? Um empobrecimento da experiência. Sendo metafórica a verdadeira natureza da linguagem, originalmente ela não empobrecia o que quer que tocasse por preservar o valor de individualidade do que é singular. Ou, melhor dizendo, talvez ela não tocasse em nada além de si própria. Mas eis o grande engodo em que se enredou: transformada em conceito, quer sair de si para chegar às coisas e dizê-las como elas são. É deste esquecimento de sua origem que resulta o sentimento da verdade, processo no qual quem perde é a vida.

Frio e abstrato, o conceito faz a mediação da relação do homem com o mundo, padronizando, a partir de uma espécie de regra do bom senso, as impressões que este homem tem. Soará delirante toda impressão que não possa ser universalisada, isto é, que não possa ser reconhecida, integrada a um quadro geral e comum assegurado pelos “homens”. Não é dificil enxergar que por trás dessa vontade de conhecimento há uma outra vontade, a de estabelecimento de vínculos para fazer do outro o seu próximo, a necessidade de uma vida em rebanho para que desapareça o perigo de morte que um homem representa para outro homem. Dito isto, quem poderia ser o mentiroso se não aquele que rompe com o poder que separa o falso do verdadeiro? Não existe figura de maior risco do que este que não consente com a verdade. Nocivo àqueles que aceitaram a legislação da linguagem, o mentiroso é quem engendra prejuízos sem medida à vida em rebanho.

A linguagem enquanto conceito é comunicação. Comunicar é a ação de "tornar comum". E toda comunicação, em última instância, é mando de um e obediência de outro. É nestes homens que nasce a consciência, sobretudo nos que obedecem. Estar dotado de consciência é estar alienado ao outro, ser regido por seus comandos de ordem. Da necessidade do vínculo nasce a consciência. O homem consciente precisa sentir-se protegido. Sob a consciência, então, existe o medo. Rasa, ela só é capaz de reter para si quase nada do que se passa, ela é um “dar-se conta” disso ou daquilo, mas sempre de uma mínima parte e a mais superficial do que se passa nesta ovelha branca. A consciência não é o mesmo que pensar e é como uma doença.

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