Da mesma forma que a culpa é anterior ao crime – todo ato delituoso visa a dar corpo a uma falta que o transcende –, o sonho pelo fim, pela destruição total é anterior à guerra. O que é a bomba atômica se não o aparelho que materializa o nosso sonho por uma interrupção radical? Parece que não basta morrer porque morrer talvez seja muito pouco. O desejo mais fundamental é mesmo o de que tudo desapareça. E não se trata de qualquer desaparecimento, mas sim daquele com efeitos retroativos, isto é, com um alcance tal que não permite que sobreviva nenhuma memória em que estaria registrado tudo o que já foi vivido. Então, não é que deixaremos de viver, mas sequer chegamos a existir. A teologia, apropriando-se desse desejo, fala do “apocalipse”; quanto aos tempos atuais, tempos sem Deus, que nome dão ao nosso sonho secreto de morte absoluta?
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