Da mesma forma que a culpa é anterior ao crime – todo ato delituoso visa a dar corpo a uma falta que o transcende –, o sonho pelo fim, pela destruição total, é anterior à guerra. O que é a bomba atômica senão o aparelho que materializa o nosso sonho por uma interrupção radical? Parece que não basta morrer porque morrer talvez seja muito pouco. O desejo mais fundamental é mesmo o de que tudo desapareça. E não se trata de qualquer desaparecimento, mas sim daquele com efeitos retroativos, isto é, com um alcance tal que não permita que sobreviva nenhum resquício de memória em que estivesse registrado tudo o que já se viveu. Então, não é que deixaremos de viver, mas sequer chegamos a existir. A teologia, apropriando-se desse desejo, fala do “apocalipse”; quanto aos tempos atuais, tempos sem Deus, que nome dão ao nosso sonho secreto de morte absoluta?
terça-feira, 28 de agosto de 2018
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