CAETANO VELOSO, em determinado trecho de seu livro Verdade Tropical nos revela um problema que teve quando esteve preso no final dos anos 1960. Disso que se passou com ele resultou numa dupla impossibilidade: a de chorar e a de se masturbar. A partir desta constatação ele aproxima as lágrimas do esperma. Além de serem secreções expelidas pelo corpo têm elas como causa o que é propriamente pertencente à alma; diferentemente do que ocorre com a urina e com o suor, que por serem também secreções expelidas pelo corpo limitam-se as suas origens ao próprio corpo, não tendo como causa nada que tenha conexão alguma com o que esteja para além do orifício por onde elas saem. Tal impossibilidade do choro e da masturbação ele considera como a marca da perda da intimidade do espírito com o corpo.
"(...) que benção que seria não apenas poder ser arrebatado pela tristeza ou pelo prazer, mas também – e talvez principalmente – ter a experiência física das lágrimas ou de uma ejaculação! Parecia-me que eu seria salvo do horror a que fora submetido se sentisse jorrar de mim esses líquidos que parecem materializar-se a partir de uma intensificação momentânea mas demasiada da vida do espírito. De fato, o pranto e a ejaculação são, por assim dizer, vivenciados como um transbordamento da alma quando esta a um tempo se adensa e se expande, paradoxo interdito à matéria. Muitas vezes, depois de posto em liberdade, pensei nessa analogia entre o esperma e as lágrimas que me ocorrera por causa da situação vivida na cela da PE. É uma analogia que vai muito além da mera constatação de que se trata de duas secreções corporais: excetuada esta última condição, tudo o que aqui foi dito sobre o choro e o gozo não pode ser aplicado, por exemplo, ao suor ou à urina. Sem a graça do sexo ou do pranto, sentia-me como que seco de mim mesmo e apartado do meu corpo." (Caetano Veloso, Verdade Tropical, pag's 355, 356)
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