sexta-feira, 10 de julho de 2009

Nota sobre o Romantismo

O TEXTO abaixo foi retirado do apêndicie do livro Le Monde et ses Remèdes, do escritor francês Clément Rosset. A sua obra gira em torno da noção de trágico e de sua defesa. O trecho que se segue condensa o que há de essencial em seu pensamento. Espécie de 'doença da alma', a paixão pelo fixo é a atitude moral por excelência do romantismo e absolutamente contrária a uma atitude verdadeiramente trágica, isto é, de aceitação e principalmente de afirmação da finitude de todas as coisas. Em poucas palavras, ou se ama a morte na atitude mesma de aceitá-la, caso do pensamento trágico, ou se padece de uma melancolia cuja natureza pode ser entendida como sendo o esforço absurdo de negar aquilo de que é impossível escapar.

"É assim que a angústia romântica diante do Tempo não é tanto o sentimento da irreparável fuga dos dias, mas, mais profundamente, o sentimento de que o Tempo, mesmo futuro, mesmo presente, é sempre igualmente inapreensível. O trágico do instante que passa não é que ele se torne irrecuperável tão logo passado, mas que não se possa ficar aí, apreendê-lo, mesmo quando ele passa - de modo que o instante é tão pouco apreensível presente quanto passado. A «fuga do Tempo» não significa somente que o tempo foge para longe de mim no passado, mas sobretudo que ele se apaga progressivamente sob meus passos no momento mesmo em que eu o percorro. O tempo não se retira após se ter dado, mas não se dá jamais: e a angústia diante do tempo, antes de ser um lamento diante do passado irrecuperável, é de início um drama da impossessão, renovado em todos os instantes da vida. A esse respeito é muito notável que o mais profundo escrutador do ciúme que jamais tenha havido desde Racine seja precisamente o autor da La recherche du temps perdu, um homem obsecado pela fuga do Tempo, não por isso que ele passe para nunca mais, mas nisso que desliza sempre e se recusa à toda preensão. É por isso que o ciúme e o sentimento da «escapatória» do Tempo participam de uma mesma natureza, que é a impossessão, a impossibilidade presente de apreender. O tormento do ciúme não é somente que o ser amado não seja seu, mas sobretudo que ele não seja apreensível em si, do mesmo modo que na angústia ligada ao sentimento do tempo, a maior inquietude não é que um tempo passado tenha cessado de vos pertencer, mas bem antes que ele não vos tenha jamais pertencido."

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